terça-feira, 30 de outubro de 2012

Dom Rua (Final)



  Miguel Rua foi ordenado padre no dia 29 de julho de 1860 por dom Balma, auxiliar do arcebispo Fransoni, que estava no exílio. Foi ordenado na vila do barão Bianco de Barbania, onde o bispo passava as férias. A vila estava em Caselle, no fundo do vale de Lanzo. Como a via férrea Turim--Lanzo ainda não tinha sido construída, o diácono Rua partiu de Valdocco no dia 28 de julho em companhia de dois jovens clérigos, Celestino Durando e Giovanni Anfossi, e percorreu o caminho a pé, como os pobrezinhos, conta-nos o padre Francesia. 

  No entanto, chegado ao destino, não foi dormir (na manhã seguinte sua cama ainda estava intacta), preferindo passar a noite em oração. No dia seguinte, durante a cerimônia da ordenação, na capela de Santa Ana da vila, seu comportamento conseguiu “arrancar as lágrimas” de alguns presentes, a crer nas expressões um tanto sentimentais do seu biógrafo Francesia. Sem Dom Bosco, não temos um Dom Rua, como nos transmitiu a história.

  A mesma história indica também que sem uma grande e decisiva contribuição de Dom Rua às obras de Dom Bosco, eles não teriam conseguido realizar o que com efeito realizaram. No dia 29 de outubro de 1865: é eleito “prefeito geral” da congregação: ou seja, faz as vezes do Reitor Mor na sua ausência; Administra as entradas e saídas do dinheiro da casa;  Cuida dos bens móveis e imóveis e seus rendimentos;  Numa palavra:  é o “centro de tudo”;  Nesta tarefa consome os melhores anos de sua vida (dos 28 aos 48 anos).

  Nos 4 CG (Capítulo Geral) dá sua grande  e competente contribuição: do CG1 (1877) é  Regulador e preside a comissão sobre a vida comum. Do CG2 (1880) é Regulador  -  confirmado prefeito general por unanimidade.  No CG3 (1883) preside várias assembléias e a comissão sobre “a moralidade entre os socios”. No CG4 (1887) substitui Dom Bosco como presidente do Capítulo Geral. 

  Por muitos anos administra as  Leituras Católicas e  a livraria. Cuida diretamente da secção dos aprendizes de Voldocco com as oficinas. 1869-1875 é  mestre de noviços. Aos 28 de janeiro de 1884 é convidado por  Dom Bosco para substitui-lo na sua ausência por causa de viagens programadas. No verão Dom Bosco pede que Dom Rua o substitua «em tantas coisas», mas o libera de outros empenhos locais e congregacionais.

  No dia 19 de setembro: discussão capitular sobre o lugar da  (provável iminente) sepultura de Dom Bosco. No dia 3 de outubro: Dom Bosco preside em San Benigno reunião do Capítulo superior. Final de 1884: nomeação papal do Dom Rua com a livre indicação de Dom Bosco. 24 de setembro de 1885: comunicação ao Capítulo Superior da nomeação do Dom Rua como vigário de Dom Bosco. 1887 praticamente substitui Dom Bosco em quase todos os acontecimentos da Congregação e preside reuniões do Capítulo Superior.

  Dom Rua e Dom Bosco: Duas personalidades diferentes, se revelam complementares no pensamento e na ação. Frágil, nobre e austera figura de Dom Rua obscurecida pela dominante, animada e cativante figura de Dom Bosco: mas Dom Rua foi feliz em permanecer à sombra do fundador. A congregação SDB (e o Instituto das FMA) de 1888 eram o resultado da sua ação conjunta. 
  O longo tirocínio com Dom Bosco preparou o Dom Rua para tornar-se um ótimo Reitor Mor, de uma congregação de fundamentos sólidos,  mas que precisava ser organizada, consolidada e desenvolvida.  
  Conclusão: Dom Rua ficou com Dom Bosco, como Dom Bosco era. Não quis mudar Dom Bosco, mas ser como ele era. Diferente da concepção pós moderna. A gente vai para uma lugar, até uma congregação religiosa, não conhece nada dela e já quer mudar.


Quando Dom Bosco morreu
Ano
Salesianos de Dom Bosco
Filhas de Maria Auxiliadora

Professos
Noviços
Casas
Professas
Noviças
Casas
1888
773
276
58
415
164
54








Quando Dom Rua morreu:
1910
4.001
371
387
2.716
286
320

Essa é a conclusão de fidelidade!

As duas partes do texto sobre o Beato Miguel Rua foram produzidas por: 



Pe. Narciso Ferreira, SDB, da Inspetoria Salesiana Nossa Senhora Auxiliadora. Atualmente ele é diretor da comunidade salesiana de Pindamonhangaba-SP.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Dom Rua (Parte I)



 Diferentemente do camponês João Bosco, que descobriu a cidade somente com a idade de 15 anos, quando chegou como estudante a Chieri, Miguel Rua nasceu em Turim [9/6/1837], capital do Reino da Sardenha, onde vai morar por toda a vida. Será sempre um cidadão, o filho de uma cidade do período pré-industrial, que lentamente se desenvolvia de um passado do qual se orgulhava, numa época mais liberal de monarquia constitucional.

  No fim da década de 1840, Dom Bosco estava se tornando, na cidade de Turim, aos olhos dos seus admiradores, um personagem carismático, quase taumatúrgico. A imprensa católica começou a celebrá-lo em 1849. Um artigo afirmava que ele possuía “uma força prodigiosa” sobre o coração dos jovens. Esse “novo discípulo de Felipe Neri” tinha o poder de operar prodígios. A hagiografia salesiana faz remontar justamente a esses anos uma multiplicação de hóstias, uma multiplicação de castanhas e até a ressurreição temporária de um jovem de  15 anos, para que pudesse confessar um pecado grave antes de morrer definitivamente. 

  As pessoas, dentro e forado Oratório, costumavam atribuir-lhe milagres, mesmo quando ele negava ser o autor deles. Dos 8 anos (1855) até os 23 anos (sacerdote), Dom Rua cresce e se forma ao lado de Dom Bosco. Primeiro com contatos esporádicos, e de 1852 em Valdocco (até a morte). Rapaz, jovem, leva de presente para  Dom Bosco: inteligência lúcida, inata propensão à disciplina, boa preparação cultural, profundo espirito de piedade, amor à ordem e à exatidão. Com 17 anos  Dom Rua se coloca completamente à disposição de Dom Bosco. 

  No dia 26 de janeiro de 1854: faz “uma prova de exercício prático da caridade em favor do próximo, para chegar depois a uma promessa, e em seguida, será possível e conveniente, fazer um voto ao Senhor”. Rua é membro ativo das Conferências de S. Vicente (1855…) - Cofundador, com D. Sávio, da Companhia da Imaculada (1856). - No dia 25 março de 1855: emite votos privados. - 1858: vive fabulosa experiência com Dom Bosco em Roma.

Beato Filipe Rinaldi
Miguel Rua e Filipe Rinaldi, beatos
  Miguel, com a idade de 13 anos, no início do verão de 1850, começou a frequentar as aulas de latim para a admissão à classe de “gramática”, sob a orientação de Dom Bosco, que o observava porque esperava fazer dele, no futuro, um colaborador do seu apostolado. Em julho de 1853, Miguel foi admitido para estudar filosofia no seminário de Turim. Um seminário pobre, a bem da verdade, vítima dos movimentos revolucionários de 1848. Apesar das ordens reiteradas do arcebispo Fransoni, os seminaristas, no fim de 1847 e no início de 1848, continuavam a se entusiasmar pelas manifestações patrióticas. Agora, esse arcebispo, de temperamento conservador, via nas tendências liberais um atentado à autoridade do Estado e à da Igreja. O arcebispo ameaçava não admitir os transgressores às ordenações.

  No início do ano escolar de 1855-1856, o clérigo Rua começou os estudos de teologia frequentando as aulas do seminário. Enquanto isso, Dom Bosco refletia. Sua obra havia se consolidado com a chegada a Valdocco, em outubro de 1854, de um padre de idade madura, padre Vitório Alasonatti. Fez dele seu vice e lhe conferiu o título de prefeito. No entanto, começava a estruturar de modo mais preciso os ritmos e as atividades da casa e de toda a instituição. Mas conseguiria criar aquela sociedade religiosa que parecia necessária para reger a obra dos Oratórios?

  Numa breve anotação de Dom Rua, lê-se: “Na noite de 26 de janeiro de 1854 reunimo-nos no quarto de Dom Bosco: Dom Bosco, Rocchietti, Artiglia, Cagliero e Rua; e foi-nos proposto fazer com a ajuda de Nosso Senhor e de São Francisco de Sales uma provade exercício prático da caridade para com o próximo para chegar mais tarde a uma promessa; e por fim, se possível e conveniente, a um voto ao Senhor. Desde essa tar­de foi dado o nome de Salesianosaos que se propuseram e se propuserem tal exercício.”.

Nossa Senhora  No fim de um ano de noviciado, que ninguém desig­nava com seu verdadeiro nome, Dom Bosco pensou que era chegado o momento de dar início a uma nova fase. Durante as conferências começou a falar dos votos reli­giosos, mas de maneira quase “acadêmica”. Em março de 1855 convidou abertamente Rua a emitir os três votos. Rua aceitou. A cerimônia cercou-se da maior discrição. Ajoelhado no quarto de Dom Bosco ante um simples crucifixo, sem outra testemunha senão o seu diretor e pai espiritual, Rua fez a profissão por um ano. Era o dia 25 de março. Cerimônia sem esplendor, mas, dizia o padre Auffray que gostava de imagens, “nascia algo de grande entre aquelas quatro paredes, uma ordem religiosa começava a bater as asas”. Na verdade o jovem clérigo de dezoito anos, aluno do segundo ano de filosofia, não tinha absolutamente consciência disso. Pensava tão somente em ajudar a Dom Bosco na “obra dos oratórios”. 



  No dia 9 de dezembro, Dom Bosco disse: “Vós que frequentáveis nossas confe­rências, fostes escolhidos por mim, porque vos julgava aptos a vos tornardes um dia membros efetivos da Pia Sociedade que tomará, ou melhor, conservará o nome de Salesiana, isto é, colocada sob a proteção de São Francis­co de Sales. Estamos, pois, entendidos: quem não tiver vontade de inscrever-se peço que não venha mais às conferências que em continuação darei: o não compa­recimento será para mim sinal de renúncia à própria adesão. Deixo-vos uma semana de tempo para pensar. Rezem para que o Senhor os ilumine”.

  À saída da reunião houve um silêncio desusado. Mas logo que as línguas se desataram se podem verificar quan­ta razão tinha Dom Bosco em proceder com lentidão e prudência. Alguns murmuravam que Dom Bosco queria fazê-los “frades”. Cagliero media o pátio com grandes passos, dominado por sentimentos contraditórios.  Mas na maioria o desejo de “ficar com Dom Bosco” levou a melhor. Na “conferência de adesão” que se reuniu na tarde de 18 de dezembro, uma semana depois, falta­ram apenas dois dos que haviam participado da confe­rência precedente.

  A prudência de Dom Bosco explica o emprego de uma terminologia não muito clara. Para evitar o termo suspeito de noviciado (embora se tratasse precisamen­te disso), julgou oportuno propor-lhes “uma prova de exercício prático da caridade para com o próximo”. O nome de Salesianos na realidade não causava nenhuma surpresa. Todos conhe­ciam o culto que Dom Bosco professava ao santo bispo de Genebra. De há muito colocara o Oratório sob a pro­teção de São Francisco de Sales. Acabava-se de construir uma igreja em sua honra. Talvez o apelativo já fosse usado há tempo simplesmente para designar o pessoal do Oratório de São Francisco de Sales. Miguel Rua estava entre os escolhidos.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

São Luís Guanella, o Servo da Caridade



São Luís Guanella
Dom Bosco, nosso pai e mestre, cativou e auxiliou muitos homens e mulheres na descoberta  e vivência de suas vocações através do carisma de sua Congregação Salesiana.  Dentre estes muitos seguidores de sua obra, destacamos Luís Guanella, o qual foi declarado pelo Papa Paulo VI venerável em 6 de abril de 1962 e beatificado em 25 de outubro de 1964. Foi canonizado pelo atual Papa Bento XVI em 23 de outubro de 2011.
 
Então, quem foi Luís Guanella?
Nasceu em Fraciscio di Campodolcino em Val San Giacomo, na província de Sondrio, Itália, no dia 19 de dezembro de 1842. Possuía um caráter forte, no qual a firmeza, temperança e espírito de sacrifício eram marcas de destaque. Ainda mais era possuidor de uma forte fé, enriquecida e alimentada pela piedade popular adquirida na convivência com os pobres e povo simples. Fez seus estudos no Colégio Gallio de Como e em vários seminários diocesanos.
No ano de 1866 foi ordenado sacerdote e, em seguida, nomeado pároco de Savogno. Tinha muita dedicação para com os jovens, preocupando-se em educá-los e revitalizar a Ação Católica. Ao conhecer Dom Bosco e, encantado por seu carisma, tentou abrir um colégio para jovens, no entanto não obteve êxito, o quê motivou a tornar-se um salesiano, optando por ficar com Dom Bosco, em 1875.  Foi responsável pelo Oratório São Luís, em Turim, e em pouco tempo nomeado diretor do Colégio Dupraz, em Trinità (Cuneo).
No entanto, ficou na Congregação Salesiana por apenas 3 (três) anos, uma vez que o bispo o convocou de volta a diocese. Teve como missão a direção de um asilo de idosos pobres, no qual encontrou um grupo de Ursulinas, o qual organizou em uma Congregação, denominada de Filhas de Santa Maria da Providência. Esta congregação tinha como missão apostólica a educação dos jovens, preferencialmente os mais pobres e marginalizados, a assistência dos doentes mentais e ao acompanhamento e a manutenção dos idosos abandonados.

Ressalte-se que, a referida Congregação teve com uma de suas integrantes a Madre Clélia Merloni, que após uma experiência com Luís Guanella, resolve sair e fundar o Instituto das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus.
Apoiado pelo bispo fundou o ramo masculino de sua Congregação com a denominação de Servos da Caridade, possuindo a mesma missão apostólica do grupo feminino.
A predileção pelos jovens não foi a única coisa que aprendera com Dom Bosco, mas também a obediência a seus superiores, que proporcionou uma obediência firme a seu bispo, mesmo no sofrimento e incompreensão.
Opera Don Guanella 

Faleceu em Como, Itália, no dia 24 de outubro de 1915.


Fontes bibliográficas:
·     DAL COVOLO, Enrico – Santos na Família Salesiana/ Enrico Dal Covolo, Giorgio Mocci; tradução Hilário Moser. São Paulo: Editora Salesiana, 2008.






José Lopes Lima Júnior
Ex-aluno do Colégio Salesiano Dom Lustosa 
(Fortaleza – CE) e, atualmente 
noviço salesiano em Curitiba (PR).